Você já se perguntou a história de alguma antiga construção na sua cidade? Que histórias será que conta? Quem teria vivido ali? A tinta descascada numa parede centenária mostra mais que o material em si: são portas e janelas que revelam fragmentos da memória local. “A existência e conservação de estruturas nos permite a elaboração de uma série de questões, que podem ajudar na compreensão de contextos mais amplos”, explica o historiador Luiz Felipe Florentino, de Garopaba.
Como a quem olha uma antiga fotografia, veja agora algumas casas antigas, que ainda estão de pé, aqui na nossa região. Suas paredes e cômodos nos contam sobre um tempo que já passou:
Segundo descrições do falecido Amadio Vettoretti, um dos mais importantes historiadores de Tubarão, um casarão construído em 1883 no bairro Sertão dos Correias é, seguido pelo Palacete Cabral, erguido em 1897, a construção mais antiga de Tubarão que ainda está de pé. Possivelmente construída por escravos, sua estrutura foi erguida com pedras, óleo de baleia, melado, ripas de palmito e rebocada com barro e cal.
Nilce Domingos Margotti, 76 anos, vive ainda na casa com a cunhada, a filha e a neta. “É a casa das quatro mulheres”, conforme apelida, carinhosamente. Com lucidez e vivacidade, ela relata que a casa pertenceu a João Corrêa, um grande proprietário de terras da região, e perto da década de 1920 foi vendida à família de seu marido. “Depois meu esposo ganhou do pai, como um presente de casamento”, conta.
Na fachada, do lado de fora, uma placa data a finalização da construção: 15 de janeiro de 1883, 141 anos atrás. Ao longo do tempo, a casa sobreviveu à enchente de 1974, além de servir como fazenda de cana, gado e café à família Margotti. “Aqui na frente havia uma eira, onde os grãos de café eram colocados para secar”, explica Dona Nilce.
O mais curioso, no entanto, são os primórdios da construção. Dona Nilce relata saber de histórias de um triste tempo passado. “Havia uma senzala, que depois foi demolida para fazer plantação de cana. Num dos quatro quartos da casa, o menor, dormia um dos escravos que era mandão e namorador”. O historiador de Garopaba, Luiz Felipe Florentino, não descarta a possibilidade: “A abolição da escravidão no Brasil ocorreu tardiamente, em 1888. Quando essa casa foi construída a escravidão ainda era uma instituição vigente. Possivelmente pode ter contado com mão de obra escrava”, explica ele.